- O que precisamos descobrir - Você percebeu que a máscara que usamos cobre duas coisas: nossos narizes e nossas bocas? Será que é porque falamos demais, mas fizemos pouco? Ou porque perdemos boas oportunidades de nos mantermos calados? Será que é porque nossa vaidade, nosso egoísmo e nossa inveja são demasiadamente venenosos e contagiosos? Talvez seja porque temos muitas opiniões, mas ainda não possuímos bom julgamento, nem bom-senso? Será que nossos narizes são tão altivos, olhando para os outros como se fôssemos superiores? Ou porque nossos narizes estavam tão ocupados em perscrutar as vidas e ações dos outros, que acabamos esquecendo de notar nossas próprias falhas e fraquezas?
- O que necessitamos desvelar - Nossos olhos e nossas orelhas, contudo, permanecem descobertos (ainda). Talvez seja porque precisamos escutar mais e falar menos? Ou porque ainda estamos cegos e precisamos manter nossos olhos bem abertos? A verdade é rude, e não perdoa. Esta é a razão pela qual continuamos escolhendo ouvir somente aquilo que queremos... e não aquilo que realmente precisamos ouvir. Dizem que os olhos são a janela da alma… talvez tenhamos esquecido de cuidar daquilo que está dentro de nós... Tudo que é externo é perecível. Nossas almas são a única coisa que não o é. Você quer falar? Ouça primeiro. Você quer fazer algo? Reflita se isso afetará alguém de forma negativa. Você acha que algo é bom para você? Não será, se for causar algum mal, mesmo que seja para uma única pessoa ou criatura... Você acredita que tem fé? Mas você consegue perceber a realidade em primeiro lugar?
- Como deveríamos agir - Use a máscara. Ela é uma barreira física eficaz contra eventuais perigos. Vista a máscara. Ela bloqueia riscos que você pode infligir a outras pessoas. Adote a máscara. Ela dá valor à sua vida. Ela mostra que você valoriza todas as formas de vida. A máscara é a maneira de demonstrar que você se importa. É sua declaração de que você vê a realidade, e que age com a intenção de torná-la melhor. A máscara te protege dos perigos que não estão sob seu controle. A máscara é a maneira de tomar controle sobre o que você pode.
O filósofo libanês Khalil Gibran uma vez disse: “Vós falais quando deixais de estar em paz com vossos pensamentos.” Elocubrando sobre nossos caminhos no Tai Chi Chuan, talvez possamos intuir que, igualmente, falhamos quando deixamos de estar no momento. Decerto já nos pegamos tentando antecipar o próximo movimento – para não o esquecer, para estarmos preparados. Tentamos estar em dois lugares ao mesmo tempo, fazendo um movimento e pensando no que se segue; é o Yin da introspecção lutando contra o Yang da ação. Nesta batalha, quem perde é o corpo, o aspecto físico.
Pois que é então o equilíbrio de Yin Yang no movimento? Pensamos que é ter equivalência entre ambos, mas na verdade é como o movimento natural de uma balança: permitir que o movimento aconteça sem interferências, discernindo as prevalecências. Se a mente interfere, o corpo fica em alerta e tensiona – tudo em demasia vem a estagnar a energia. Quando Mestre Yang Zhenduo nos diz que “se há algo incorreto na parte superior, muito provavelmente a causa será encontrada ao se examinar a parte inferior”, é por que a falha encontra-se na raíz. Pois que “uma única folha não amarelece sem o silencioso conhecimento da árvore toda”, como diz Gibran. O nosso caminho no Tai Chi Chuan, ou em qualquer outra Arte, é uma senda evolutiva, mas que demanda constante reflexão e análise. Nossas falhas não precisam ser motivo de desânimo, se estivermos dispostos a transformá-las em degraus para o progresso. É um processo de lapidação, levando-nos do material bruto à luz cristalina. Gibran diz: “E do que é que quereis livrarvos, para serdes livres, senão de pedaços de vós mesmos?”
Este caminho está aberto para nós, se nos abrirmos para ele: através de nossos estudos e leituras e dos nossos treinos e práticas diárias. Se está iniciando uma senda, ou se já a está trilhando, o rumo é o mesmo: autoconhecimento, paz interior e discernimento. Haverão conquistas, mas também falhas. Nas falhas, olhemos para trás, voltemos um passo e retiremos as pedras que nos fizeram tropeçar; nas conquistas, olhemos ao redor e nos certifiquemos que à frente não deixemos pedras que outros, ou nós mesmos, possamos tropeçar. Assim, que as palavras de Gibran nos inspirem neste caminho: “O vento não fala com mais doçura para o grande carvalho do que para as menores folhas da relva.”
Após encerrarmos 2017 – um ano exigente em muitos aspectos, adentra 2018 – Ano do Cão de Terra – que continuará a instigar novas visões e atitudes; chances para refletirmos e extrairmos da essência nosso melhor – por meio do auto-conhecimento, para o benefício comum. Os animais do horóscopo chinês são formas de analogias para o despertar de virtudes no ser humano – como o Galo, que anuncia a luz quando ainda há penumbra, que nos acorda para a vida.
O cão, que representa 2018, inspira as qualidades do companheirismo, lealdade e de superação nas adversidades. Analogias podem ser meios de suscitar o estado meditativo e de reflexão em nossa mente, esta que é parte indistinta de nossa saúde. Compartilho este ensinamento, que me foi passado, e que clareou minha mente, enquanto enfrentava turbulências e intempéries. Enxergando só o sentimento de perda e de mudanças inesperadas e bruscas – em muitos aspectos, recebi a contrapartida da palavra “impermanência”.
Refletindo sobre impermanência, podemos ver que, como em tudo, há o lado Yin, mas também o Yang. Depende de cada um saber moderar sua tendenciosidade de visões, bem como saber o quanto ou o quê estamos dispostos a deixar de lado, para poder absorver mais um ensinamento e passá-lo à ação. Impermanência pode querer dizer que nada é para sempre… mas também quer dizer que ações estão sendo tomadas. Que certas fases passam… mas que determinam, assim, uma nova que se inicia.
Impermanência pode sugerir que temos alguns apegos… mas que o tempo nos fará valorizar as coisas realmente importantes. Pode significar que existe uma perda… mas também significa que aconteceu uma transformação. O impermanente sugere a imprevisibilidade… e isto exigirá de nós maior preparo, discernimento e criatividade. Não-estagnação é impermanência; tudo que tem fluidez e movimento pode ser compreendido como algo cíclico, onde não distinguimos o começo do fim, já que o meio é impermanente.
Assim é a vida. É na sua característica de impermanência – em que somos suscetíveis à influências externas e internas, bem como à situações sob ou fora de nosso controle – que residem nossas chances de transformação, de crescimento, de superação, de eterno aprendizado. Que esta bela palavra nos inspire, para que quando estivermos prestes a desabar ou desistir, ou quando nossa visão se estreitar em demasia, ela nos mostre sua outra face – a da vontade, perseverança, superação e coragem.